É incrível a capacidade do ser humano de maquiar a dor quando ela é grande demais.
Você finge que passou.
Finge que não dói mais,
Finge pros amigos,
Finge pra familia,
Finge pro desconhecido que dividiu uma dose de alguma coisa em um bar qualquer,
Finge até pra você mesma.
Guarda a dor bem dobrada dentro do coração e esquece ela lá , no porão da alma.
Com a ilusão de que um dia ela vai sumir, desaparecer num passe de mágica.
Pobres inocentes somos nós!
Enganamos nossa alma.
Tocamos a vida.
Talvez com menos brilho no olhar.
Talvez com o coração mais duro.
Talvez não vivendo com a mesma plenitude de antes.
Só , tocamos a vida.
O problema é que para nossa infelicidade, existe uma coisa chamada insônia, que tem como um dos sintomas típicos a vontade de caçar chifres na cabeça de cavalo.
"Só uma olhadinha no instagram dele não vai fazer mal! -Aconselha a cretina da insônia-
Reler as mensagens fofas que ele mandava só pra passar o tempo não tem problema nenhum!
Não vai te abalar mais! Já passou!"
E lá vai você como toda boa idiota revirar o fundo do baú,
tirar as malas empoeiradas do fundo do porão e pronto!
"Ela" volta com tudo e te domina.
Sim! ela continuava lá.
Ela sempre esteve lá.
A dor.
A filha da puta da dor.
A golpista que usa lembranças boas como isca, chega de mansinho, manda a saudade na frente e aparece com tudo depois.
Forte, lancinante, dominadora...
E novamente vocês se reencontram em outro duelo,
Já é quase de manhã quando você consegue vencer, dominar a ordinária e prende-la novamente no porão.
Algumas cicatrizes voltam a sangrar um pouquinho, mas você sobreviveu.
E decide que da próxima vez que tiver insônia vai proucurar uma balada, vai andar de bicicleta, vai sair para conhecer o mundo de velotrol, ou tomar um rivotril.
Não importa...
Mas vai deixar as lembranças no porão, bem guardadinhas e esquecidas.
Cada dia mais cobertas de pó.
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