quinta-feira, 30 de junho de 2016

Pagando Lingua


- Você ainda vai pagar língua!
Ele me diz sorrindo.
Eu sorrio com descaso e tento não olhar pro sorriso dele.
Por dentro o muro de Berlim desmoronando, juntando o  medo de ir longe demais e não saber voltar,
Com aquela vontade louca de voar, de pagar pra ver até onde vão minhas asas, e essa nossa história maluca. 
Transformo medo e vontade em uma coisa só.
Me transformo em medo e vontade.
Até que aparece minha razão putissima da vida me convidando para uma D.R
"Como não pensar no futuro criatura? 
Esse filme você ja viu garota burra! 
E o final não foi lá muito bonito, lembra?"
Sempre desagradável essa cretina.
Tento ignora-la. 
Impossível!
Peço aos céus em vão para me transformar em uma iguana ou quem sabe uma samambaia.
Sem medos,
Sem vontades,
Sem duvidas....
Logo eu meu Deus!  
Marrenta, orgulhosa, pregando aos quatro ventos o orgulho e independência feminina.
Sempre tentando empurrar o amor-próprio pela goela-abaixo alheia.
Sempre dona da situação,
Sempre dona das minhas vontades e verdades incontestáveis...
Bem feito pra mim!
Que nessas alturas já não era dona nem dos meus pensamentos.
Encaro seu rosto de frente, recuo e sou obrigada a admitir que ele me encanta, e me perturba.
A razão como uma última tentativa desesperada,
prega em sua testa uma placa luminosa,escrita PERIGO em letras garrafais  e me implora pra me afastar  enquanto é tempo.
Mas minha intensidade tem um plano.
Me diz pra viver cada segundo de nós dois,enquanto ainda existir nós dois.
Sem pensar no amanhã, ou em expectativas surreais.
Sem criar um filme na Disney na minha cabeça e ficar encanada em seguir roteiros.
Esse é o ponto principal! 
Nada de roteiros prévios.
Acho o plano bom.
Resultado: Mando pra puta que pariu a pobrezinha da razão, e peço gentilmente que ela leve tudo que não for leve.
Me agarro na mão  da intensidade, e vou vivendo, um dia de cada vez.
 Deixo de lado  os medos, e neuroses.
A  saudosa razão à essa hora  ja mandou lembranças do Japão.
Praguejo contra a ironia da vida.
Ele continua sorrindo.
Encaro seu rosto fixamente, 
e dessa vez não recuo,
me permito sentir.
Para minha infelicidade, me encanto pela milésima vez com alguma de suas piadas sem nexo.
Tenho vontade de contar pra ele, que eu ja tô pagando mais lingua que impostos. 
Mas acho completamente idiota comparar lingua com impostos, 
e em vez disso, conto uma das minhas piadas, ainda mais sem nexo que a dele, e mando essa história de pagar língua ir atrás da razão, e também tirar umas férias no Japão.